"Existe ciência ruim e ciência boa. Toda ciência ruim não serve.
Daí tem a ciência boa e uma grande parte não é aplicável." (FR)
O que pensa a Ciência sobre o Meio Ambiente? Os pesquisadores desenvolvem seus projetos e o que recomendam para o futuro ambiental? Que conceitos surgem, ou se recriam, em distinção ao posicionamento ambiental como a Ciência do novo século?
Um pouco dessa abordagem é o objetivo desta postagem - discutir mais do pensamento científico, das opiniões de pesquisadores e incluir 'novos' emergentes conceitos no arcabouço para projetos ambientais.
Os novos conceitos serão citados e explorados mais adiante, na evolução dos nossos textos e artigos.
1. O pensamento de outros cientistas sobre o Meio Ambiente
Tivemos como referência a participação de dois cientistas ambientais em mesa redonda na TV Cultura; usamos aqui as bases dos pensamentos destes pesquisadores sobre a questão ambiental.
São eles (com citação das inicias do nome no decorrer da pauta):
- Carlos Nobre do INPE, Climatologista, Dr. Massachusetts Institute of Technology (MIT), Cambridge
- Fernando Reinach, Biólogo, Ph.D - Cornell University Medical College, New York, USA, está entre os 50 empresários Scientific American
"A ciência é tida como neutra, ela dá informações objetivas e não é dominada por interesses imediatistas, políticos, econômicos. Sobre o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) de 2007: o órgão reconhece que teve imprecisões, mas muito pequenas. Existem lobbies atrás de desqualificar o relatório, tentando minar a credibilidade do relatório e de qualquer outro que aponta para o fato de que o planeta está aquecendo sim e que são as atividades humanas as responsáveis." (CN)
"Os cientistas 'não são neutros', são cidadãos do mundo, são pessoas comuns, normais, cada um com as suas convicções, com as suas orientações, com as visões. Qualquer tipo de financiamento para a pesquisa em ciência do clima, atmosfera, oceanos, vem de financiamentos dos governos. São órgãos de financiamento mais distantes do poder econômico e do próprio poder político dos governos. Aqui no Brasil, a pesquisa em mudanças climáticas é financiada pelos órgãos tradicionais - Fapesp (SP), Cnpq, Finep. Agora, a metodologia científica é que é a guia de todo o trabalho. Quando se descobre um erro, esse erro é possível a partir de correção. Não existe nenhum conhecimento científico que não passou pelo teste do método científico e, é esta a beleza da ciência." (CN)
"Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE - sobre desmatamento: O primeiro estudo foi bastante criticado (em meados de 89). Foi uma lição muito importante e, a partir desse episódio, não conheço qualquer tentativa interna de qualquer manipulação, de qualquer uso indevido. Os dados produzidos tem qualidade científica e são entregues ao governo. Hoje, tudo que se produz sobre desmatamento, as análises vão para a Internet, são públicas. Agora, quem utiliza os dados do INPE pode dar o viés que bem lhe aprouver, mas não me parece adequado usá-los com o viés político, porque estão a disposição de todos." (CN)
"O país poderá fazer com tempo previsões para eventos climáticos de efeito? - Quando a gente olha para o arcabouço legal do Brasil, especialmente a partir do relatório IPCC de 2007, houveram avanços. Lei Federal e estaduais. Todas elas vão na linha da redução de emissões de gases. Segundo os cálculos dos cientistas as reduções devem ser muito radicais, algo em torno de 80%. Não existe política pública ainda para a adaptação, o que é muito grave. Por exemplo, qual a melhor política de adaptação - para a seca do Nordeste nunca ainda conseguimos adaptar - ou seja, a adaptação vai fundo, de fato, numa certa incapacidade do modelo de desenvolvimento brasileiro de se ajustar aos extremos. É um subdesenvolvimento brasileiro histórico. As 'enchentes' não são só devido ao fato de cada vez mais a população está exposta a riscos. O clima está mudando e a cidade não buscou se adaptar." (CN)
"O aquecimento global é um pano de fundo, mas a urbanização se continuar, é uma causa na dimensão mais regional ou local. A curto prazo teremos ainda que conviver com soluções de engenharia." (CN)
"Na escala de mais de duas décadas deveríamos 'ter retirado' a população das áreas de risco. Uma medida completa de adaptação."
"É contraditório o que os países falam sobre o que reduzir. Como a gente sabe se alguma coisa pode ser mudança climática? A maioria dos fenômenos já aconteceu no passado, assim como podemos saber que alguma coisa pode ser efeito da mudança climática? - É quando algum desses episódios começa a acontecer com uma frequencia tão maior que no passado que nos faz suspeitar que alguma coisa está acontecendo." (CN)
"Não há uma resposta para como atingir uma meta de reduções de emissões climáticas. Atingir a meta vem de vários setores: aumento do uso de biocombustíveis, a Bioenergia, a eficiência energética, a principal é a redução do desmatamento." (CN)
"Grau de confiança sobre previsões do clima? - Vem melhorando muito. A variabilidade natural sempre exisitiu, mas está ficando mais extremada. Mas, a aquisição de equipamentos e desenvolvimento de modelos é constante."
"A agricultura no Brasil terá que ter em conta que vai ter ondas maiores de calor. Na questão de Políticas Públicas (para o caso de clima e agricultura) a instituição mais próxima de adaptação tecnológica é a Embrapa. Sobre as mudanças climáticas, existem soluções ainda não aplicadas no campo: porque a agricultura precisa acreditar! (nesse novo clima) Se não houver adaptações a agricultura brasileira perderá. Deve estar baseada na melhor ciência."
"O setor de desmatamentos é eivado de ilegalidades." (CN)
"A ciência climática e a política estão distantes uma da outra no país!? - Brasília é muito grande! (risos) A resposta em geral deveria ser sim. O Ministério da Ciência e Tecnologia ao qual ao INPE pertence, criou vários programas - falando em dezenas de milhões (de investimentos). Em poucos anos chegaremos a 100 mi de investimentos. No sentido do INPE ser um articulador do avanço científico a resposta é SIM. No sentido contrário está Brasília ouvindo o que a ciência brasileira está querendo lhe dizer? - SIM e NÃO. Já na questão da adaptação NÃO." (CN)
"O Sr. menciona que o nível do mar subiu 20 cm ao longo de um século!" (jornalista a CN) - Sim!
" Se o aquecimento for muito alto esse nível pode subir acima de 50 cm passando de 1m em alguns cenários."
" Qualquer construção muito próxima ao nível do mar deve ser muito pensada. Sobretudo uma Usina Nuclear." "Ninguém vai querer resíduos nucleares." (CN)
"Os vilões da Amazônia não 'são' o agronegócio? (para criação de gado e produção de soja). - Estudo de várias instituições - UnB, Embrapa, INPE: entre 38 e 59% das emissões brasileiras tem origem na pécuaria. Com o desmatamento, com a queimada de pastagens, e o próprio metano emitido pelos animais. Em média a produtividade da pecuária brasileira é baixa. Não é mais necessário abrir novas áreas; mas a pecuária se modernizar intensificando sua produção. - Assim, o agronegócio está dando um tiro no próprio pé." (CN)
"Instituições científicas (de peso) preveem que a partir de 10 anos as perdas ainda podem ser maiores na agricultura, por consequencia do clima, das mudanças climáticas."
"As escolas de agronomia tem que desenvolver métodos para o setor produtivo (Esalq, FGV); fazer o que qualquer companhia de seguro faz diariamente, trabalhar com previsões de riscos. Desenvolver suas atividades com BASE EM uma informação que tem um risco ALTO DE ESTAR CERTA e MENOR DE ESTAR ERRADA (previsão climática com métodos científicos). O setor agrícola é o primeiro interessado em buscar a adapatação. Vai haver mais ondas de calor (que a agricultura não gosta), secas e chuvas devastadoras - a agricultura brasileira tem, terá de se adaptar." (CN)
"Desenho de uma nova agricultura que seja produtiva no mundo em que o clima está mudando."
"Primeiro o setor precisa acreditar nisso e depois trabalhar mais com a ciência."
"Se é uma adaptação na melhor ciência e nos conhecimentos que ainda vão ser descobertos, é positivo, se for o ajuste em busca do prejuízo, às pressas, pode ser muito cara." (CN)
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------
"O Trabalho científico pode ser escrito de uma maneira que alcance leitores mais comuns." (FR)
" Nosso conceito de pessoa é muito mais rico que passar uma régua biológica."
"O DNA como um colar pérolas. Associar as métaforas da sala de aula para um artigo que o leitor possa entender, visualizar. A receita é da literatura científica. Um artigo científico é escrito da seguinte forma: no início se dá revisão restrita do assunto (reescrevo meus artigos), depois se explica qual experimento foi feito, depois descreve os resultados - essa parte é objetiva - o cientista descreve o que ele observou e, uma penúltima parte é a discussão - ex. : isso que eu descobri não é bem assim, pode-se até "delirar" um pouco, e, ao final do artigo , dizer onde se baseou: as referências, a bilbiografia." (FR)
"A ciência é uma curiosidade ou como uma necessidade? - Dentro do jornalismo algumas coisas são leitrua obrigatória, dentro da ciência não, como se trabalha isso como uma coisa essencial à vida das pessoas?
- A ciência é uma maneira de conhecer o mundo, existem várias maneiras, a ciência é uma delas." (FR)
"O grande papel da divulgação científica é mostrar a maneira de conhecer o mundo. Não é dizer como é linda a estrela no céu, mas como fazer o telescópio, será que dá para ver a estrela, (projetar) a questão experimental. Você aprende o mundo através da ciência, fazendo experimentos. Um exemplo do experimento de um cara: pegou uma formiga e amarrou um palito na pata da formiga. Cada passo que a formiga dava ela ia mais longe. Se tirava o palito ela voltava mas dava passos menores, ia com palito e dava dez passos e sem o palito não voltava para a toca (pq tinha passos menores). Se for de palito e voltar de palito dava dez passos. (Sem o palito a formiga contava dez passos mas como eram menores não chegava a toca.) Daí o cara conclui que: - a formiga pode contar os passos." Isso é começar a pensar pela ciência. (FR)
"Cada vez mais jornalistas estão começando a escrever como cientistas. Conta o resultado mas não conta como chegou lá, a parte principal da ciência é a metodologia. 'A parte principal da ciência é contar como chegou lá.' Entender como chegou à conclusão. Não é só dizer é assim, mas explicar porque é assim - isso pode mudar a sociedade! (FR)
"Existe uma resistência ao conhecimento científico (da forma como é empurrado ao público) - é preciso explicar, convenver de que houve uma descoberta por meio de experimentos - (o que justifica, por exemplo, como não querer tomar uma vacina). No fundo é um problema de educação científica - não é somente dizer aqui está a Tabela Periódica e ponto. Assim, se distancia a população da verdade científica. Talvez com tantas coisas a ensinar, diminiuir a quantidade, mas tratar a origem com explicações. Se não houver a explicação se pode correr o risco do autoritarismo. Ações educativas podem influenciar na relação homem-natureza." (FR)
"Existe um clube de professores titulares que pediram demissão! Porque não é comum no Brasil um cientista criar um empresa para ganhar dinheiro com ciência, na fronteira do conhecimento.... Em pasíes desenvolvidos a quantidade de ciência é muito maior. Existe ciência ruim e ciência boa. Toda ciência ruim não serve. Daí tem a ciência boa e uma grande parte não é aplicável. Por exemplo, -qual a cor da pena do dinossauro? É interessante mas não vai virar empresa. Da ciência boa, tem uma parte enorme que não vai virar empresa. Toda a ciência básica que tem que ser financiada tem uma parte enorme que não vai virar. Assim, nesse funil tem uma grande parte dos cientistas da parte de pesquisa básica boa, que (por si) não querem ser uma empresa. Então, também tem uma cultura de que tudo que é ciência e vai ser capitalizado é como um pecado. Até mal visto por parte da academia. Diferente de outros países. E, também pelo ambiente empresarial que não precisava muito de inovações, o que está de certa forma, mudando. - Mais lento do que gostaríamos." (FR)
"Doutores para quê?"
"Um plano de pesquisa: vou fazer isso, isso e vou gastar isso, como orçamento para conseguir aprovação para a ciência. Mas na parte de baixo do plano não se prevê 'como vou ganhar dinheiro com isso'?"
"O ideal é ter a cadeia da empresa toda dentro do país........ Criou-se a ciência e com a empresa é difícil integrar. Exemplo: o remédio da biotecnologia farmacêutica que pode não conseguir não conseguir vender - (e ter de usar uma empresa que não é do país)." "As empresas investem muito e investem, não na forma de pequenas empresas que vão desenvolver alguma coisa e fazer, mas como empresas que vão ser incorporadas a (outras) maiores....." "Tem-seque criar um ecossistema , é um ecossistema...." (FR)
"Agora, na vida acadêmica se quiser fazer alguma coisa empreendedora, você vai ter que fazer uma descoberta e saber que essa coisa vai virar outra coisa em forma de produto, e correr o risco.... e o problema é que o cientista é avesso ao risco" "o capital de risco entra depois da descoberta...."
"As espécies estão mudando no regime fóssil. Mas existe uma dificuldade em aceitar isso, quanto mais próximo de VOCÊ. Ou seja, você teve um ancestral que era mais cabeludo... aceitar quanto mais próximo da gente (ser humano) mais difícil, como dilemas éticos." (FR)
"Um exemplo, um cientista disse 'se voce nao acredita na evolução' faz o seguinte: primeiro você pega um pé de alface, joga alguma coisa em cima e come, vivo claro; agora você pega um brocóli e come: - você tá comendo órgão sexual vivo da planta; e trazendo para mais próximo da gente mais difícil de aceitar. Ou seja, vamos para a formiga, tudo bem vai lá e mata com o pé...... - meu filho me viu matando um rato (ele com 4 anos de idade) e ficou incomodado.... qualquer pessoa que teve que matar um mamífero (então) aumenta a dificuldade..... o dado pode ser objetivo muito claro, mas se é muito próximo da gente mais difícil de aceitar." "A gente se acostumou a ter uma explicação superior para entender." "Difícil para gente achar que como espécie daqui a 50 mi (por ex) de anos pode não estar mais...." "Achar que a gente é o centro do Universo...." "Culpa dos dois lados, culpa de como o conhecimento científico é empurrado..... eu não quero tomar a vacina, porque fica com medo... e a explicação da descoberta (não é) feita com autoritarismo." (FR)
"O cientista tem a fama de prometer mais do que deve alcançar. Para a verba sair." (FR)
2. Conceitos emergentes
O livro "Justiça Ambiental e Cidadania" dos organizadores Acselrad, H.; Herculano, S. e Pádua, J. A. é oportuno para fazer ampliar conceitos e dimensões na questão ambiental para projetos.
O livro traz capitulos como:
- Justiça ambiental - ação coletiva e estratégias argumentativas;
- Enfrentando o racismo ambiental no século XXI:
- Saúde Pública e (in)Justiça Ambiental;
- O verde e o negro: a justiça ambiental e a questão racial no Brasil;
- Áreas contaminadas na região de São Paulo;
- O custo do silêncio.
Sobre alguns destes conceitos desejamos ampliar a compreensão ao leitor, como racismo ambiental e ordernamento territorial e, também, oportunamente, a ideia de Bullying Ambiental.
Isto porque estamos preparando algumas novidades: postagens sobre Jornalismo Científico Ambiental e uma matéria exclusiva em Economia Ambiental.
Além de um documentário (nosso primeiro filme!) - sobre as cadeias periféricas do capitalismo e as interrelações ambientais. Original, inédito para nossos leitores e teve início a dois meses. Em breve estamos terminando a captura de imagens, seguindo a edicão e produção final do projeto.
O título sugerido é "NO CORAÇÃO DO LIXO" (Waste Heart) - o documentário mostrará a vida de duas senhoras que para garantir a sobrevivência de suas famílias recorrem ao lixo, identificando uma cadeia de preservação ambiental pelo ciclo de vida de produtos retornáveis, dilacerando o coração de uma sociedade de consumo e traduzindo uma dignidade às margens do silêncio capital ou como um instante para suportar a existência.
Nesta, ficamos por aqui!
Referências sobre esta postagem
-----------Programa Roda Viva - TV Cultura
Engenheiro eletrônico - (ITA), Doutor (Meteorologia) - Massachusetts Institute of Technology (MIT), Cambridge, MA, Estados Unidos - e atua/coordena projetos de alta relevânica junto ao INPE na área de Clima.
Fernando Reinach
Bacharelado em Ciencias Biológicas - USP, PhD, +Pos Docs: demitiu-se de Professor Titular da USP e segue carreira executiva como Top em Biotecnologia.
-----------Acselrad, H.; Herculano, S.; Páuda, J. A. Justiça ambiental e cidadania. Rio de Janeiro: Dumará: Fundação Ford, 2004.
Nenhum comentário:
Postar um comentário